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Em "O Hotel às Margens do Rio", Hong Sang-soo faz um filme-poesia sobre os desencantos da vida e as possibilidades de se refazer.

Em O Hotel às Margens do Rio, Hong Sang-soo faz um filme-poesia sobre os desencantos da vida e as possibilidades de se refazer.


AAssistir a qualquer filme de Hong Sang-Soo é sempre uma experiência interessantíssima graças à sutileza com que o cineasta sul-coreano consegue poetizar cinematograficamente. Em O Hotel às Margens do Rio, Sang-Soo usa sua habilidade impar de capturar imagens igualmente reais e líricas para abordar as constantes transições e os desencantos que a vida nos acomete.

Neste sentido, a fotografia em preto e branco combina e agrega plenamente à escolha por um hotel como hospedeiro dos acontecimentos da narrativa. Edificação que acomoda pessoas em passagem e em constante transito, aqui, o hotel ganha uma conotação melancólica justamente pela fotografia que cria uma ambientação apática e fria – que também é ressaltada pelo branco intenso da neve que toma conta do cenário às margens do rio.

Nesta atmosfera de transição, vemos o encontro de duas pessoas que vivem, justamente, etapas diferentes de uma jornada. Ki Joo-bong vive um poeta em crise, já mais velho e certo de que está mais próximo da morte do que qualquer sopro de vida que possa aparecer. Kim Min-hee encarna uma mulher que tenta compreender o emocional abalado após uma traição amorosa. Assim, ambos se encontram em duas etapas da jornada que a vida é: ele caminha melancolicamente para o final deste caminho, enquanto ela tenta compreender um acometimento para, de alguma forma, se refazer.

Isolados e reflexivos, ambos recebem visitas que condizem com seus momentos. O poeta se reúne com seus dois filhos em um derradeiro encontro para trazer a dura verdade que tanto lhes afastou, enquanto a jovem chama por uma amiga que lhe trará o afeto e carinho para enfrentar o desapontamento.

A partir de uma captura que combina o real e a simbologia, o dom poético de Hong Sang-Soo se manifesta em O Hotel às Margens do Rio nos diálogos triviais, nas conversas de bares regadas à álcool, nas indagações de suas personagens e, principalmente, no uso de uma câmera que captura o a verdade de forma crua. O cineasta entende que a verdadeira poesia da vida, seja na melancolia das desavenças, nas dores da separação ou na inspiração irruptiva do acaso, está presente nas pequenas coisas.

É por isso que o poeta, já em crise existencial e ciente de sua degradação interior, decide conversar com seus filhos, confronta-los – e de certa forma, encarar suas escolhas e passados – logo após se deparar com as amigas em uma paisagem quase que onírica, de duas mulheres paradas na neve à beira do rio.

Sobretudo, O Hotel às Margens do Rio é mais um bonito e tocante filme de Hong Sang-soo. Um recorte verdadeiro, profundo, cru e poético dos percalços, possibilidades de se reinventar e, sobretudo, da grande jornada de questionamentos que a vida é.

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