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O Artista do Desastre trata dos sonhos de jovens cineastas por meio de um retrato metalinguistico de um dos piores filmes da história.

Considerado como o “melhor pior filme do mundoThe Room (2003), de Tommy Wiseau, talvez seja o maior guilty pleasure de todos os tempos – mesmo que eu deteste o uso desse termo – uma vez que, apesar de carregar tal título, acabou se tornando um sucesso cult que é reproduzido em diversas sessões noturnas em cinemas estadunidenses. Passados mais de 10 anos da estreia, O Artista do Desastre (2017) conta a história de produção desta “pérola” que marcou o cinema.

Adaptando o livro The Disaster Artist: My Life Inside The Room, The Greates Bad Movie Ever Mad, de Greg Sestero e Tom Bissel, o longa nos apresenta ao próprio Greg Sestero (interpretado por Dave Franco), um jovem ator que, assim como todos os outros iniciantes na profissão em Hollywood, sonha em se tornar um astro de cinema. Depois de conhecer o misterioso e peculiar Tommy Wiseau (James Franco), Sestero embarca em uma jornada para Los Angeles na tentativa de, junto de seu novo parceiro, se tornarem estrelas da sétima arte. Contudo, depois de meses falhando nas tentativas de papeis, a dupla decide produzir o seu próprio filme independente, que com a direção, produção, roteirização e atuação principal de Wiseau e atuação como coadjuvante de Sestero, viria a se tornar The Room.

Um dos maiores acertos do filme reside na abordagem sutil e delicada com que Franco, que também dirige o longa, propõe a partir do roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber, explorando de um olhar sensível para os esforços criativos e artísticos que Wiseau e Sestero tiveram na tentativa de realizar seu próprio filme. Se a indústria de Hollywood adora se promover como a terra da busca e realização dos sonhos épicos e glamourosos, como em La La Land (2016), O Artista do Desastre procura mostrar o outro lado da equação a partir do olhar dos que não alcançam o sucesso e tem seus sonhos frustrados ou destruídos. A delicadeza com que Franco aborda o tema e na forma tragicômica com que reconstrói as gravações de The Room fazem com que a experiência de seu novo longa seja interessante e forte mesmo para quem nunca assistiu ao filme de 2003, mas para quem já teve o prazer (ou desprazer) de assistir, o resgate de momentos ridículos e icônicos da produção agregam ao novo longa.

Além da direção inteligente, Franco entrega sua melhor performance desde 127 horas (2010), dando vida a todos os trejeitos e manias caricaturais de Tommy Wiseau, reproduzindo a personalidade peculiar que tem em momentos que arrancam risadas pelo absurdo e pela vergonha alheia. O trabalho feito pela equipe de maquiagem do longa é impecável na recriação de Wiseau, deixando Franco irreconhecível nas próteses e na longa peruca negra que o ajudam a se tornar outra pessoa em tela. É uma atuação que demanda muita entrega física do ator, mas quando o personagem exige que o ator transcenda emoções, Franco entrega o necessário. Seu irmão, Dave Francotambém se sustenta com uma atuação forte no longa, levando para a tela toda a organicidade e química que possui com o irmão, o que ajuda a tornar a relação dos protagonistas ainda mais crível e identificável.

O que prejudica o filme é a dificuldade de não se tornar um documentário, trazendo tramas secundárias que trabalham questões pessoais dos atores que apesar de terem influenciado a todos na época em que The Room foi produzido, acaba sendo pouco atrativa para o espectador que está entretido na jornada estapafúrdia e caótica dos jovens atores que querem alcançar seus sonhos. É como se, principalmente no primeiro ato, quando somos tirados das cenas em que acompanhamos as gravações, passamos a querer assistir a mais daquelas bizarrices cômicas.

Se em uma das canções mais famosas e simbólicas de La La Land, Audition (The Fools Who Dream), Emma Stone faz uma ode aos tolos que sonham em Hollywood, O Artista do Desastre dá vida aos tolos que normalmente não chegam as telas, sendo sustentado por atuações afiadas e por um olhar delicado e sensível sob a jornada criativa de jovens artistas.


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