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Entre erros, referências e acertos, "Lightyear" é um divertido filme cheio de encantos próprios e novidades para a franquia.

Entre erros, referências e acertos, “Lightyear” é um divertido filme cheio de encantos próprios e novidades para a franquia.


SSucesso de crítico e público, Toy Story foi um marco para uma geração, em uma série de quatro filmes sobre a relação do garoto Andy com os seus brinquedos. Em uma tentativa de atualizar a franquia e criar o seu próprio multiverso, a Pixar decide lançar a história de origem do famoso Patrulheiro Espacial Buzz Lightyear.

Dirigido por AngusMacLane, Lightyear já estabelece nos créditos iniciais como “o filme em que Andy assistiu” e que o levou a conseguir o tecnológico boneco. Na história conhecemos Lightyear (Chris Evans, dublado por Marcos Mion) como um determinado patrulheiro espacial. Após cometer um erro e levar sua tripulação a ficar presa em um planeta hostil, abandonado cerca de 4,2 milhões de anos-luz da Terra, ele está decidido a comandar várias tentativas de retomar sua missão ao sucesso.

Porém, os inúmeros testes fazem ele se dar conta de que perdeu muitos anos em relação ao seu grupo de amigos, terminando em um futuro já distante e desconhecido para ele. Para piorar, após a sua última tentativa ele descobre a existência de uma grande ameaça, Zurg, e o seu exército de robôs imbatíveis.

 

Ao Infinito…

Lightyear preocupa-se em apresentar bem o protagonista. De fato ele é um personagem carismático, mas está longe de ser o boneco de Toy Story. No clássico, Buzz era um cara cheio de manias mas que ainda encontrava alguma diversão no que fazia, aprendendo isso com Woody.

Em seu filme solo, pelo contrário, encontramos mais um cara metódico, egocêntrico e com um coração bom, mas que ainda assim se prende a fórmulas e a seu perfeccionismo. Ele sempre tem que estar certo e, se errar, considera o pior dos erros.

Sua famosa frase, “Ao Infinito e além”, que deveria soar de forma épica, acaba se tornando repetitiva. No primeiro ato de Lightyear, o bordão até funciona bem, pois é usado para mostra a amizade entre Buzz e Alisha (Uzo Aduba), sua companheira espacial. Mas quando chegamos no segundo ato, sinto uma mudança brusca na narrativa e somente depois de muito tempo é que sua neta ira entender o valor da frase.

 

…E Além?

Sobre a polêmica do beijo gay, é preciso ir com cautela. Entendo a parte dos pais, mas também entendo o lado de quem quer se sentir representado. Alisha representa essa nova geração de pais do século XXI. Hoje em dia há novas formações e grupos familiares sendo formados, enquanto a comunidade LGBTQIA+ cresceu muito. Logo, pessoas precisam se ver representados.

Destaco mais ainda a personagem de Lightyear por ser negra e lésbica. Mas reflito que o tempo de tela da personagem é até curto em relação aos outros, parecendo haver um lado da representatividade e um outro onde existe a preocupação em “finalizar” a personagem pelo mesmo motivo.

A questão é que a Disney sempre fez esse tipo de sugestão mais trabalhado em sua subjetividade e nas entrelinhas. Talvez o impacto seja maior porque somente em 2022 é que a empresa do camundongo decidiu mostrar explicitamente como existem essas famílias.

O debate de Lightyear entra em questão aqui quando o assunto é colocado em um desenho para criança. Para os pais mais radicais, a saída é o boicote. Para os pais mais liberais, há um entendimento. Minha opinião sobre isso é que a cautela deve ser no sentido de que o diálogo deve existir sempre, mas ter em mente que a criança ainda é criança e não há necessidade de discutir identidade e sexualidade tão cedo. A conversa deve existir sempre e nada melhor do que os pais decidirem o melhor para seus filhos na fase da infância.

 

Um Pouco de Frescor

Os personagens coadjuvantes são um dos grandes brilhos de Lightyear. O trio de novos recrutas faz um belo contraste e eleva a narrativa, sendo o motivo principal para fazer com que o protagonista aprenda a vencer seus traumas — mesmo eles trazendo características bem batidas.

Izzy (Keke Palmer), neta de Alisha, é a líder da Patrulha Zap Júnior. Valente e inexperiente, seu grande sonho é se tornar uma patrulheira como sua vó. É muito interessante ver Izzy como a mais nova, guiando o equipe de pessoas mais velhas. Ao mesmo tempo é ela que confronta Buzz em suas escolhas e sempre tenta incluir a si e sua equipe.

Darby Steel (Dale Soules) é a rabugenta viciada em bombas que a todo momento pensa em estourar ou atirar em alguém. Com sua forma enérgica e rude, ela consegue motivar a equipe e isso é uma característica que se destaca. Já Mo Morrion (Taika Waititi) é o medroso que não sabe o seu lugar na equipe e nem o que realmente quer da vida. Mas o seu brilho em Lightyear é que ele representa alguém novato e isso faz com que o telespectador compartilhe de seu medo e consiga estabelecer um certo afeto pelo personagem.

Destaco também Sox (Peter Sohn), o gato robô prestativo que foi presente de Alisha ao seu companheiro. Ele representa o lado emocional da jornada de Buzz e é praticamente um R2D2 em forma de felino. Além de ser muito fofo e inteligente, cheio dos aparatos tecnológicos, Sox consegue ser o alívio cômico de maneira ponderada, deixando o público com vontade de ter um gato só por conta dele.

 

Referências e Clichês

O vilão movimenta bem Lightyear. A sua grande revelação é uma referência clara à famosa de Star Wars: O Império Contra-Ataca entre Darth Vader e Luke Skywalker. Porém, o que incomoda aqui é sua motivação principal. Ele é um cara que quer voltar no tempo para ter prestígio e ser reconhecido, enquanto o protagonista luta para seguir em frente ao tempo e aprender com o novo. Esse contraste até funciona, mas acaba sendo desenvolvido de maneira apressada.

Mas é impossível não destacar as questões técnicas. A animação com os traços cada vez mais realistas e a sonorização de missão espacial ajuda a colocar o telespectador em uma experiência futurista. Porém, o filme tem algumas saídas clichês em sua conclusão enquanto o ritmo de Lightyear é meio lento. Parece que estamos andando em círculo até buscar novas alternativas para se desenvolver.

Vale também falar da dublagem brasileira. Marcos Mion está completamente a vontade com o papel, seguro e sério. Embora aqui não tenhamos Guilherme Briggs, que dá voz ao famoso boneco em Toy Story, de fato a mudança era necessário já que temos o personagem em seu “live-action“.

Lightyear sem dúvida alguma é o começo de algo novo, construindo e aprofundando mais seus personagens. Sendo uma extensão do universo de Toy Story, o longa funciona bem apesar de alguns defeitos e é capaz de encantar a geração do início da franquia e os fãs da Pixar. Mas agora estou curioso para a história de Woody. Acho que ele tem um peso emocional muito maior para Andy e para audiência do que o próprio Buzz, mas o Patrulheiro Espacial abriu caminho para essas histórias serem contadas com uma tecnologia de ponta. Resta saber se iremos ver mais narrativas como essa.

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