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Em exercício meticuloso de frontalidade, S. Craig Zahler faz de "Justiça Brutal" um retrato da violência e visceralidade na marginalização da sociedade.

Em exercício meticuloso de frontalidade, S. Craig Zahler faz de “Justiça Brutal” um retrato da violência e visceralidade na marginalização da sociedade.


ÉÉ um tanto quanto óbvio apontar que Justiça Brutal tem em sua estrutura uma relação direta com o cinema noir e a literatura policial pulp. O interessante dessa visão é perceber como S. Craig Zahler faz um filme muito preocupado com a forma, com um compromisso rigoroso e meticuloso da encenação que prioriza um retrato cru, violento e distante capaz de criar uma força muito reveladora.

https://www.youtube.com/watch?v=hMgfzr6cn48

O enredo remete a tradição do gênero policial por combinar diferentes elementos consagrados destas histórias: os detetives Brett Ridgeman (Mel Gibson) e Anthony Lurasetti (Vince Vaughn) são suspensos após o vazamento de um vídeo que mostra o comportamento violento e excessivo durante suas investigações. Sem seus empregos, a dupla – capitaneada por Ridgeman – cruza a linha da moralidade e recorre ao crime para garantir o sustento de suas famílias. Paralelamente, também acompanhamos a jornada de Henry (Tory Kittles), o recém-saído da cadeia que pega um último serviço como assaltante de banco para garantir o sustento para sua mãe e seu irmão mais novo cadeirante.

Desta estrutura conhecida de um gênero onde todos têm suas justificativas para quebrar a lei e optar pelo caminho do crime, Zahler trata tudo como muita personalidade e potência. Temos, então, uma encenação que captura a violência com uma distância precisamente calculada e que torna a experiência de Justiça Brutal muito mais forte.

O diretor e roteirista não se interessa pela temática da violência como um questionamento sobre sua banalização ou por sua característica escatológica e catártica – algo que Tarantino toca em seus filmes, por exemplo. O interesse de Zahler posicionar a câmera forma seca, precisa e inabalável que, diferentemente do retrato de Tarantino, opta pela via oposta: o grande efeito da relação entre tema e forma não está na experiência catártica do espectador gerada pelo grafismo da violência, mas na visceralidade presente nos pequenos gestos e movimentos envolvidos em todas essas situações.

Por isso, a narrativa se desenvolve lentamente – na mesma velocidade da investigação particular dos detetives e da construção minuciosa do assalto ao banco que Henry está envolvido. O roteiro se permite o respiro e a lentidão porque a proposta da dramaturgia de Justiça Brutal é mesmo se fazer presente pela potência dos atos. Os planos são longos, frontais, diretos e objetivos porque há uma carga reveladora de uma agressividade inerente aquele mundo esperando para ser evocada.

Ao mesmo tempo que há um clima melancólico enunciativo de uma tragédia, de um desfecho que não convergirá para o sucesso do plano das personagens centrais, o jogo de antecipação e suspense que Zahler faz é envolvente. O espectador pressente uma incessante certeza de que algo de errado acontecerá, mas o caminho que a narrativa toma consegue acessar os clichês das tramas policiais de novelas pulp na mesma medida em que se desvia das obviedades destas escolhas.

O que torna o longa mesmo tão interessante é o efeito que a frontalidade e o retrato cru propostos alcançam. Todos os três personagens são figuras complexas, de moralidade questionável e de contextos que não tentam soar como justificativas para os atos criminosos, mas que se apresentam como elementos formadores do caráter de cada um – e, obviamente, definidor das escolhas que são tomadas por cada um no clímax do longa.

Ao final, Justiça Brutal tem um desfecho que sopra algum alívio e respiro a toda brutalidade que é apresentada anteriormente como uma recompensa ao espectador e ao personagem que melhor se adapta e se comporta frente as estruturas violentas e desoladoras da sociedade.


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Justiça Brutal está disponível na Amazon Prime Video

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