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Doce, azedo e amargo: Os excessos e sua importância em “É Apenas o Fim do Mundo”

“É Apenas o Fim do Mundo” é mais um trabalho primoroso de Xavier Dolan, que traz um filme cheio de nuances e atuações fortes.

“É Apenas o Fim do Mundo” é mais um trabalho primoroso de Xavier Dolan, que traz um filme cheio de nuances e atuações fortes.


AApós estrear aos 19 anos como diretor e ator do longa Eu Matei Minha Mãe (2009, vencedor de três prêmios na Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes), Xavier Dolan foi conhecido internacionalmente como prodígio.

O currículo do canadense inclui os filmes Amores Imaginários (2010, vencedor do César de Melhor Filme Estrangeiro) e Mommy (2014, vencedor do César de Melhor Filme Estrangeiro e o Prêmio do Júri do Festival de Cannes), que ressaltam características de suas obras como o relacionamento entre mãe e filho e personagens homossexuais. É Apenas o Fim do Mundo (2016, vencedor do prêmio Grand Prix do Festival de Cannes) destaca o estilo do diretor e marca uma visão autocrítica sobre a própria vida e a de milhares de gays que enxergam dificuldades em serem aceitos por suas famílias.

A mistura de sabores do longa cria certo desconforto ao espectador, pois os excessos teatrais e dramáticos não são fáceis de serem digeridos. Louis (Gaspard Ulliel) passou 12 anos longe de sua família e volta para casa com o objetivo de dizer para sua mãe e irmãos que está morrendo. Nesse momento, o filme se fecha em uma visão intimista com diversos closes que nos aproximam de cada em situações que são gatilhos emocionais. Contudo, percebemos – pelo menos precisamos – que os exageros são carregados por sentimentos contidos pela ausência, inseguranças e laços rompidos.

Pôster nacional do filme “É Apenas o Fim do Mundo”

Apesar de ser a adaptação de uma peça escrita por Jean-Luc Lagarce, Xavier Dolan utiliza suas habilidades de direção para que a linguagem cinematográfica articule em harmonia com sua visão. Além dos quadros fechados, a cenografia e a direção de arte de É Apenas o Fim do Mundo marcam a casa e a vida de uma mãe solteira que – mesmo com suas individualidades – sentimos conhecê-la de outros lugares. Principalmente de outros filmes do diretor, pois vemos sempre uma mesma imagem da figura materna com um estilo que beira a extravagancia, com mistura de cores fortes e estampas – desde o abajur até as almofadas – que não agem em harmonia.

Louis é um jovem dramaturgo sensível e acanhado em um lugar que não consegue mais enxergar como o seu lar. Entre objetos do passado, a memória desperta flashbacks construídos por cenas exaltadas por causa da trilha sonora não esperada para momentos como aquele, desde a música romena Dragonstea Din Tei até canções de blink-182, Moby e Camille. Porém, reforçam o estilo do diretor como autor de sua obra, com o livre uso da poética para construir momentos únicos que gozam cheio de nostalgia da infância e juventude.

Entre os momentos mais importantes do longa, o final marca o motivo pelo qual. É Apenas o Fim do Mundo mistura sabores doces, azedos e amargos. Num show de atuação, Louis é forçado a deixar sua casa de forma abrupta pelo irmão (Vincent Cassel). Sem contestar, ele se prepara para dizer, mudo, o seu último adeus para a irmã mais nova (Léa Seydoux) e a mãe (Nathalie Baye). Contudo, estava subentendimento de todos que aquele seria o último momento em que a família estaria unida.

Entre promessas de futuros reencontros e lágrimas, nos aproximamos das feridas abertas de cada um sobre a perda. Sem esconder sua origem teatral, Dolan traduz para o cinema um roteiro cheio de nuances que dão forma para o arco dramático da jornada do herói para casa em busca de palavras que possam expressar sua despedida.

O parisiense Gaspard Ulliel é responsável por dar vida a Louis, a personagem principal da narrativa

É Apenas o Fim do Mundo (Juste la fin du monde) — Canadá, França, 2016
Direção: Xavier Dolan
Roteiro: Xavier Dolan (baseado na peça de Jean-Luc Lagarce)
Elenco: Nathalie Baye, Vincent Cassel, Marion Cotillard, Léa Seydoux, Gaspard Ulliel, Antoine Desrochers, William Boyce Blanchette, Sasha Samar, Arthur Couillard, Emile Rondeau, Théodore Pellerin
Duração: 97 min


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