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"Doce Entardecer na Toscana" convida o espectador para uma história poética, forte, íntima e universal sobre o mundo contemporâneo.

“Doce Entardecer na Toscana” convida o espectador para uma história poética, forte, íntima e universal sobre o mundo contemporâneo.


E“Eles podem ser perigosos”, avisa um personagem logo nas primeiras cenas de Doce Entardecer na Toscana, sinalizando um grupo de imigrantes sumidos de um campo de refugiados e, ao mesmo tempo, o tom do filme dirigido por Jacek Borcuch que, aos poucos, vai escurecendo o tempo na Toscana.

Pôster nacional

A vila medieval Volterra, na região italiana formada por cidades medievais e rotas de vinho, serve de espaço para o desenrolar da vida e obra da poeta Maria Linde (Krystyna Janda), autora polonesa reconhecida que deixou para trás seu país de origem e fez da Itália sua morada, onde se casou, teve uma filha e se estabeleceu profissional e pessoalmente. A poeta, que acredita no potencial das palavras essencialmente para se expressar, vive uma vida aparentemente tranquila com a família em uma casa de campo e curte os momentos sem se preocupar com a idade, que por sinal contam os 60 anos. Com muita experiência mas sem perder o entusiasmo e o prazer de aproveitar os momentos, Maria recebe o Prêmio Nobel de Literatura, fato que movimenta a trama e traz desafios para a escritora.

O longa polonês apresenta a passagem pelo tempo de quem tem muito a contar. Na primeira parte, o grupo de pessoas que convivem com a protagonista de Doce Entardecer na Toscana demonstra intimidade com a mesma e capacidade de conquistar também o público, seja em italiano, polonês ou francês.

Porém, Maria não deixa de lado a personalidade independente e revolucionária que desenvolveu, além de caracterizar a presença forte da personagem em cena. Ela ultrapassa os limites atribuídos ao seu corpo e revela ao público a vontade de viver que supera os anos passados, sentimento personificado no egípcio Nazeer (Lorenzo de Moor), imigrante que acompanha Linde em suas aventuras e quebras da rotina.

CARREIRA DE SUCESSO
Krystyna Janda atuou em filmes do conterrâneo Andrzej Wajda, como O Homem de Mármore (1977) e O Maestro (1980), e no vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1982, Mephisto (1981), do húngaro István Szabó. Janda foi a vencedora do prêmio do júri de melhor atriz no Festival de Sundance de 2019 por sua atuação em Doce Entardecer na Toscana.

https://www.youtube.com/watch?v=Yv3soZLTR90

Através de encontros com o jovem, a personagem principal consegue suprir suas necessidades, que passam por sociabilidade, liberdade e cumplicidade, seja para ir à balada ou apreciar a potência de um Porsche conversível, elemento que, ao mesmo tempo, expressa posição e mobilidade social.

 

Nacionalismo às avessas

A questão é que o modo de ser marcante e leve de Maria é desafiado na segunda parte de Doce Entardecer na Toscana. Um atentado terrorista atinge a cidade de Roma, deixando várias vítimas e um grande abalo no país e seus habitantes. Com isso, cada um demonstra uma reação própria frente ao desastre e com a poeta não é diferente.

A partir desse episódio, a intolerância cresce na região e os imigrantes tornam-se cada vez mais objeto de indignação e conflito, tendo Maria Linde que encontrar, em suas palavras, um refúgio para lidar com a situação de ódio que norteavam as ações e decisões do povo e, também, relembrava-a seu passado de perseguição. O curioso é que qualquer semelhança com acontecimentos atuais é mera inspiração.

Krystyna Janda é Maria Linde

Na ocasião de um prêmio menor em relação ao Nobel, a personagem de Krystyna discursa, fazendo da própria realidade estruturada em privilégios, maneira de combater, a partir das palavras, a intolerância crescente que percebia tomar conta do seu cotidiano. Além disso, a narrativa de Doce Entardecer na Toscana evidencia a tentativa de levar os presentes e o público do cinema, a refletir sobre a situação, grande parte das vezes forçada, de mudança do país de origem.

A atitude causa desconforto na sociedade da vila e também vai causar em você, independente de sua posição diante a situação, talvez por acreditar no comportamento equivocado dela ou por despertar, mais uma vez, para um problema global que é nosso: a xenofobia, isto é, a aversão aos estrangeiros, muitas vezes alimentada, em especial na atualidade, pelo discurso de ódio que também aparecerá e será sentido no longa.

É interessante ver como Maria compreende a carga de suas palavras e a ausência de esclarecimento em um meio onde as pessoas não pensam mais por si próprias, mas influenciadas por princípios impostos e naturalizados. Assim, o filme nos oferece uma ótima oportunidade de lançar o olhar para si próprios, os inimigos comuns que elegemos na sociedade e mais, os acontecimentos contemporâneos que nada tem de cinematográficos.

A última cena de Doce Entardecer na Toscana é forte, simbólica e, percorrendo as ruas da pequena cidade medieval Volterra, na Toscana, fica a certeza de que, independente do tempo, o fascismo e seu modo de ver a realidade está sempre presente, tornando amargo o que poderia ser um doce entardecer.

ATENÇÃO!
Doce Entardecer na Toscana estreou nos circuitos de cinema do Brasil no dia 11 de março, porém os cinemas encontram-se fechados por razão das recomendações frente à pandemia do novo coronavírus (COVID-19).

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