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“Creed II” se sustenta em um roteiro reciclado, afim de criar um sentimento de alegoria para o lugar que Adonis Creed se encontra no presente – o mesmo de seu pai, anos atrás.


Se você assistiu à Rocky IV, o roteiro de Creed II não lhe pareceu novidade alguma. O novo longa-metragem aposta na nostalgia daqueles que já acompanhavam a história de Rocky Balboa (Sylvester Stallone) e que continuam voltando ao cinema para rever o personagem. O segundo filme com Adonis Creed (Michael B. Jordan) como protagonista não se distancia do primeiro e muito menos dos clássicos, mas isso não significa que seja ruim.

Toda a artimanha para prender a atenção dos espectadores se encontra exatamente na retomada de histórias anteriores e na repetição de erros do passado. Não é à toa que neste filme temos a volta de um dos oponentes mais fortes de Rocky, o russo Ivan Drago (Dolph Lundgren), que sozinho já é o suficiente para deixar a todos angustiados. Isso porque, para aqueles que não se lembram, ele foi o causador da morte de Apollo Creed, o pai de Adonis.

Enquanto o filme de 1985 se apóia no patriotismo a priori pra validar a luta de Apollo com Ivan, Creed II usa a honra como justificativa. Adonis não apenas precisa manter o título de campeão mundial de boxe, como também carrega a necessidade de vingar o pai ao enfrentar Viktor Drago (Florian Munteanu). Neste ponto, o roteiro nos presenteia com uma visão mais ampla do antagonista que, assim como o protagonista, busca trazer a honra outrora tirada da sua família por Rocky. O fato do roteiro se preocupar em mostrar a importância da vitória para os dois lados é o primeiro indicio de uma evolução de algo que parecia ser apenas uma história reutilizada – e isso mais tarde se refletirá como um dos grandes trunfos do enredo.

No entanto, o grande embate assume a posição de clímax da narrativa, mas não é o foco do filme. A obra tem como ponto principal a evolução de Adonis como pessoa, a necessidade de deixar o fatal orgulho hereditário de lado e aprender a lidar com os problemas menos glamourosos que o cerca fora do ringue. As cenas de luta, na verdade, servem como um reflexo da verdadeira batalha dos personagens: os conflitos familiares.

Do Ringue às Telas

Para conseguir manter uma narrativa de superação já tão conhecida pelos fãs de Rocky, o diretor Steven Caple Jr. teve que apostar em cenas de drama para complementarem os confrontos de Creed II. O resultado é um mix de ansiedade e de torcida, que é ampliada ao sabermos o que está em jogo para Donnie e para Viktor, nos fazendo torcer por Creed, mas ainda assim sentir pena de Drago.

Michael B. Jordan e Sylvester Stallone como Adonis Creed e Rocky Balboa

A atuação de Michael B. Jordan é a grande catalisadora de todos esses sentimentos, já que o ator entra tão bem no personagem que todas as suas emoções parecem incrivelmente legitimas, gerando uma empatia tão intensa que faz com que soframos cada um dos dramas e problemas de Adonis. Esse é um dos pontos que distanciam o personagem de Apollo, que tinha uma arrogância tão grande que dificilmente despertava compreensão nos espectadores.

Da mesma forma, podemos enaltecer Dolph Lundgren, que deixou o personagem robótico, praticamente sem sentimentos e sem expressões nenhuma em Rocky IV, e trouxe para as telas um pai e um treinador orgulhoso, com fortes sentimentos de vingança, preparando seu filho para a honra de trazer o campeonato mundial para a família. No entanto, Florian Munteanu assume todo o personagem robótico estereotípico que torcíamos para ter ficado no roteiro passado, sem expressar sentimentos nenhum, se destacando apenas nas cenas de luta – o que na verdade não é nada impressionante já que antes de atuar, ele já era conhecido por ser boxeador profissional.

Dolph Lundgren e Florian Munteanu como Ivan e Viktor Drago

Mas o destaque de atuação, mais uma vez, retorna para Sylvester Stallone, que mesmo após anos, interpreta o garanhão italiano de forma perfeita. Mesmo sem participar das famosas cenas de ação por quais o ator ficou conhecido nos cinemas, Stallone dá um show nas sequências dramáticas, cativando-nos com sua doce atitude paternal e nos envolvendo no triste fado do antigo campeão mundial de boxe, que após chegar ao auge de sua carreira, se encontra praticamente sozinho ao lidar com suas próprias tragédias familiares.

E quando falamos em tragédias familiares, Creed II é o especialista nisso, às vezes forçando até demais os dramas na vida de Adonis para tentar despertar uma afinidade com a audiência que, para ser sincera, já havia sido criada há muito tempo. Em certo momento do filme, temos que deixar alguns dos desfortúnios de lado para que possamos de fato prestar atenção no enredo do filme. A impressão é que, ao humanizar o adversário de Creed, os produtores tiveram medo de que o protagonista não se manteria pelo próprio carisma, apelando pela piedade do público, o que acaba na verdade, irritando muitas vezes ao longo da projeção.

No entanto, o final de Creed II acaba sendo auto-suficiente para emocionar a todos, com sentimentos naturais vindos da boa atuação. O roteiro reciclado acaba se mostrando como uma alegoria para a situação de Adonis Creed, que se encontra exatamente no lugar de seu pai e precisa se mostrar melhor para conquistar o publico. Assim como seu protagonista, o filme cumpre sua tarefa gloriosamente, entregando o que prometeu, sem impressionar muito, mas trazendo muita nostalgia para aqueles que já eram fãs e conquistando alguns novos.


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