fbpx

Conhecido por ser o idealizador e responsável pela produção de conteúdo do Cinema em Cena, o site mais antigo de críticas de cinema do Brasil,  Pablo Villaça é um dos principais nomes da crítica cultural brasileira, tendo participado de diversos eventos a respeito da crítica cinematográfica e também exercendo a função – em 2007, foi o único profissional estrangeiro a participar de um seminário promovido pelo The New York Times e pelo Museum of The Moving Image. Ao longo da carreira, Villaça produziu para o Cinema em Cena diversas coberturas dos principais festivais e mostras do Brasil, além de renomados e importantes eventos internacionais como os Festivais de Cannes, Berlim e Tribeca.

No último dia 24, o crítico participou da palestra “Cinema e Sociedade”, que marcou a abertura do Seminário de Crítica da Mídia promovido pela Faculdade de Comunicação da PUC Minas, chegando a participar de uma breve entrevista, em que a colaboradora da ZINT, Carolina Cassesse, marcou presença e pôde acompanhar o convidado falar sobre os caminhos da crítica cultural e avaliar as novas relações entre espectador e obra.

 

Boa parte das críticas de filme, atualmente, são realizadas por youtubers. Qual é o caminho da crítica cultural nos tempos atuais?

A gente tem que sempre diferenciar a forma do conteúdo. A forma de fazer crítica pelo youtube é extremamente democrática, pois permite que muitos tenham acesso. Por outro lado, o conteúdo nem sempre é bacana. Uma coisa é dizer o que você acha do filme, outra coisa é você de fato analisar o filme. É importante diferenciarmos opinião de análise. Por outro lado, existem muitos youtubers que realmente tem o intuito de discutir cinema de maneira aprofundada, analisando a linguagem e vários outros aspectos imprescindíveis para a crítica.

 

O filme Arábia, dirigido por dois mineiros (João Dumans e Affonso Uchoa), já é considerado um dos destaques do ano. Qual é sua opinião sobre o longa?

O Arábia é um filme importantíssimo. Não é um filme de trama ou de gênero, é um filme de país. Narra a história de um homem comum, que cresceu sem as oportunidades que o discurso meritocrático vende. Retrata, principalmente, como funciona a estrutura da sociedade brasileira. Nesse processo, através da empatia que o cinema consegue gerar, você é colocado na pele daquele homem e consegue sentir como é difícil a vida que ele leva. É um filme belíssimo e penso que ele vai ser lembrado daqui a 20 anos.

 

Atualmente, boa parte do conteúdo cinematográfico é consumido por produtos de Streaming. Como você avalia essa relação?

Quanto mais o acesso ao cinema for democrático, melhor. Porém, não podemos negar que a experiência do cinema é diferente da experiência da televisão ou do serviço de streaming. Cada formato tem suas forças e fraquezas.  Na televisão ou no streaming, por exemplo, não é interessante investir nos planos gerais, pois a tela é muita pequena. Por isso, se trabalha mais com closes. O cinema pode ter uma linguagem mais sutil, pois o espectador está mais concentrado. Os produtos de TV ou de streaming, por outro lado, podem desenvolvem melhor conteúdos e personagens. Uma série de dez temporadas consegue aprofundar melhor num personagem do que um filme de duas horas, por exemplo. Procuro não fazer nenhum juízo de valor, apenas apontar as diferenças.

 

É possível discutir cinema sem discutir política?

O cinema é sempre influenciado por fatores externos. Dentro desse contexto, os filmes iniciam debates. O cinema faz com que a gente enxergue o mundo por meio do olhar do outro e entre na pele de outra pessoa. Ao assistir um filme sobre o racismo no Brasil, por exemplo, é possível realmente enxergar que, ao contrário do que o Chefe de Departamento da Globo afirma, existe uma estrutura racista consolidada nesse país. Uma coisa é você ler sobre isso, outra é você realmente visualizar outra realidade através da linguagem cinematográfica.


//e.issuu.com/embed.js

Compartilhe

Twitter
Facebook
WhatsApp
Telegram
LinkedIn
Pocket
relacionados

outras matérias da revista

Música
Alisson Millo

A fumaça negra que sinaliza o rock

Greta Van Fleet lança seu primeiro álbum em um território no qual carrega nas costas o título de “salvação do rock”, graças aos fãs do gênero. O rock não está morto. Mas talvez respire por aparelhos. Ou, mais talvez ainda, tenha apenas saído do mainstream, tal como nos primórdios de sua criação. Bandas como Queen (fica inclusive, como recomendação, o filme Bohemian Rhapsody), The Beatles, The Rolling Stones e Led Zeppelin estabeleceram padrões que beiram o inalcançável, além de que não existem mais bandas capazes de unir todas as tribos, como o Nirvana conseguiu. Mas a nova geração ainda produz música de

Leia a matéria »
Back To Top