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“Capitã Marvel” estreia não sendo tão grandioso como os lançamentos recentes da Marvel, mas cumpre muito bem o seu papel – e sua pegada social embutida.


2019. Ano em que o primeiro filme de herói concorre na categoria de Melhor Filme do Oscar. Pantera Negra (2018) foi um sucesso estrondoso e inesperado para a Marvel, contrariando um estigma que se criou por tanto tempo: o de que blockbusters protagonizados por negros, mulheres, LGBTQI+ ou representativos de qualquer outra minoria não teriam tanto público quanto os milhares de filmes protagonizados por homens brancos héteros cis. O filme não ganhou, mas deixou uma marca que deve mudar de vez a maneira como as gigantes dos cinemas veem essa questão. Capitã Marvel é o próximo (e atrasadíssimo) passo da Marvel, sendo o primeiro filme protagonizado por uma mulher dentre os 21 já feitos pela empresa.

Vers (Brie Larson) faz parte da equipe de uma raça alienígena conhecida como os Kree, que vivem em guerra com os Skrulls (espécie que os fãs dos quadrinhos torciam para aparecerem logo no cinema). Após ser capturada durante uma batalha, Vers escapa e acaba caindo no planeta C-53, também conhecido como Terra. É aqui que a guerreira vai conhecer um Nick Fury (Samuel L. Jackson) muito mais novo e descobrir mais sobre essa guerra intergaláctica e sua própria identidade, já que não tem memória nenhuma do seu passado.

O primeiro ponto a se destacar do filme é que ele de fato entende seu papel social. Não são erguidas bandeiras de feminismo de forma muito explícita ou didática, mas, ainda assim, a produção carrega mulheres (reais ou fictícias) que entendem a história (e a História) e não deixam a oportunidade passar em branco.

Carol Danvers sempre fora desacreditada pelos homens da sua vida, mas nunca deixou de se levantar – ótimo momento com uma linda montagem de cenas, inclusive. Além disso, Capitã Marvel não esquece de adicionar outras mulheres à história: Maria Rambeau (Lashana Lynch) e sua filha Mônica (Akira Akbar), que juntas à Carol formam uma família nada tradicional e cheia de amor. A história guarda outras personagens mulheres importantíssimas, mas que não serão citadas para evitar spoilers.

Zona de conforto resume bem o que o filme é. Talvez o título Capitã Marvel frustre alguns por ser exatamente o que ele pretendia ser: divertido, colorido, engraçado e despretensioso, como qualquer outro filme da empresa. Ainda assim, o filme se arrisca em contar uma história de origem de forma não convencional. Carol Danvers não se lembra de seu passado e o fato de o público ir descobrindo junto com a personagem, gera curiosidade e é parte fundamental para um grande plot twist no meio do enredo. A virada é interessantíssima, tanto para antigos fãs quanto para quem nada conhece do universo da personagem.

Falando nela, Vers/Carol/Capitã Marvel não parece tão bem definida. Uma mistura de fatores como texto, diálogos, intenções e a atuação da própria Brie Larson fazem da protagonista uma personagem inconsistente com o decorrer do filme. Enquanto há momentos em que ela se mostra muito dura e debochada, em outros ela assume um lado pastelão (ao imitar o grito de um vilão no meio de um duelo) que em nada combina com o texto apresentado anteriormente. Felizmente, o mais jovem e inexperiente Nick Fury faz excelente papel de balancear a dureza de Vers e protagoniza ótimas cenas de diálogo com ela. Ben Mendelsohn entrega um chefe Skrull com ótimos momentos e tiradas. Já o general Kree, de Jude Law, decepciona por ser um personagem genérico e superficial – mais culpa do próprio texto do que do ator.

O humor de Capitã Marvel pende mais pro exagero que pro equilíbrio. Como em quase todos os filmes do MCU, muitas das piadas não encaixam ou não cabem na ambientação da cena – principalmente as vindas de Vers. A gatinha Goose, porém, traz ótimos momentos à trama.

Os efeitos especiais estão excelentes, quase sem falhas. A trilha sonora é acertada, com muitas mulheres dos anos 90. Figurino e cenários ajudam a compor a ambientação dessa década. Se passar nos anos 90, no fim, é muito mais um detalhe que um pilar da narrativa, então a obra depende muito menos da nostalgia como costumamos a esperar.

Esse filme não é tanto de momentos grandiosos como foram os últimos da Marvel, de fato. Contudo, a experiência de muitos deve ter sido atrapalhada pela expectativa que o filme carrega em proceder Vingadores: Ultimato e que a própria personagem está carregando devido à cena pós-créditos de Guerra Infinita. Ainda assim, é uma história de origem decente, que cumpre seu papel de apresentar-nos essa grande personagem que ficou escondida por tanto tempo.

Capitã Marvel acerta muito mais que erra. É consciente de seu tamanho, seu propósito e seu público. Os defeitos existem sim, mas como em qualquer outro filme. É preciso ter em mente que, pelo fato de ser muito representativo, o filme carrega uma responsabilidade social, mas que nada tem a ver com perfeição cinematográfica. É inegável que Pantera Negra tenha sido tão efetivo social e cinematograficamente falando, mas esperar que todos os próximos sejam assim é utópico demais. Carol Danvers teria feito muito bem a muitas meninas se tivesse sido lançada antes. Antes tarde do que nunca, mesmo assim. Que Vingadores: Ultimato traga uma personagem ainda mais consistente, bem escrita e entendida.

E que ela dê a Thanos o que ele merece.


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