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"Buscando...", estrelado por John Cho, utiliza do famoso found-footage (de notebook) para criar o suspense em torno do desaparecimento de uma garota.

“Buscando…”, estrelado por John Cho, utiliza do famoso found-footage (de notebook) para criar o suspense em torno do desaparecimento de uma garota.


ÉÉ inegável que o avanço tecnológico foi de extrema importância para o desenvolvimento do Cinema enquanto arte, indústria e, principalmente, para a sua linguagem. Desde os primórdios do segmento, as experimentações linguísticas por meio de novidades tecnológicas fazem parte da realização da sétima arte, que em produções recentes acabaram voltando seu olhar para as ferramentas tecnológicas do dia a dia como meio de produção.

Dois casos marcantes, para bem ou para mal, são o fraco Amizade Desfeita (2014), filme de terror que explora de uma incessante conversa no Skype como formato, e o intrigante suspense Distúrbio (2018), dirigido por Steven Soderbergh, que utiliza somente de um iPhone 8 para gravação. Agora, a estreia de Buscando…, inédito trabalho de Aneesh Chaganty na direção de um longa-metragem, trabalha com as possibilidades linguísticas, visuais e, porque não, semânticas e temáticas da tecnologia no dia a dia contemporâneo humano para construir um filme tenso e astuto o suficiente para explorar de sua inventividade como uma ferramenta diegética poderosa.

O formato de Buscando… é uma espécie de found-footage por meio de um notebook, que coloca o espectador como testemunha ocular da jornada de um pai (vivido por John Cho) que ao adentrar em uma busca online por sua filha desaparecida, acaba encontrando respostas que trazem a tona a dificuldade emocional e familiar que existe em sua própria casa. Apesar de a trama ser essencialmente pautada no mistério do desaparecimento, existe uma profundidade maior do que o puro suspense de antecipação e descoberta no roteiro, que não só é corajoso e inteligente nas escolhas do enredo, mas também inventivo para justificar as ações de alguns personagens a partir da proposta técnica e linguística do longa.

Em alguns momentos em que o protagonista se desloca para longe da tela do computador, por exemplo, o diretor tem a coragem de passar o olhar da câmera para um smartphone, para uma câmera de segurança ou para recortes de programas jornalísticos, em um compromisso evidente de se manter fiel à proposta narrativa e diegética da obra. É um compromisso que, sem a astúcia de Aneesh Chaganty na direção e participação no roteiro, juntamente de Sev Ohanian, além do ótimo design de produção que consegue recriar perfeitamente as interfaces de todos os sistemas operacionais, redes sociais e ferramentas digitais utilizadas por nos no nosso dia a dia, transformaria Buscando… em um filme que propõe algo corajoso, mas que falha na execução. São mensagens, e-mails, fotos, vídeos, tweets, posts, utilizados com inteligência para complementar a narrativa e para sustentar as temáticas levantadas.

Além de toda engenhosidade técnica e imagética, o longa também se sustenta graças a uma ótima atuação de John Cho. O protagonista de Buscando… consegue transmitir, mesmo que em um enquadramento que não beneficia nenhum ator, emoções que vão do desespero mais profundo à raiva mais intensa motivada não só por um medo de perder a filha, mas também pela toxicidade vivenciada na internet. Esse, inclusive, é um dos principais pontos levantados pelo roteiro que encontra na sua própria estrutura a forma perfeita para abordar questões intrínsecas a vida contemporânea, como as dificuldades de relacionamentos verdadeiramente íntimos e pessoais em um mundo digitalizado, o linchamento público, a hipocrisia humana e a melhor apresentação da sociedade do espetáculo.

Partindo de uma premissa inventiva e sendo executado com maestria, Buscando… acaba por ser uma das surpresas mais interessantes do ano até então, trazendo um trabalho impecável em toda parte técnica, capaz de criar uma das experiências com a linguagem audiovisual mais diegéticas e marcantes da última década.


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