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“Bumblebee” evoca o senso nostálgico para dar um novo frescor muito bem-vindo à franquia cinematográfica de Transformers, iniciada em 2007 por Michael Bay.


Quando o primeiro Transformers chegou ao cinema em 2007, o público que cresceu com o divertido desenho animado original do fim dos anos 80 pôde ter um gostinho do que seria um filme live action da batalha entre Autobots e Decepticons. Apesar de um primeiro filme divertido e com potencial para estabelecer uma franquia, a visão de Michael Bay à frente de todo o projeto nos cinemas trouxe uma proposta visual e narrativa que, mesmo com bilheterias expressivas em alguns filmes, não conseguiu sustentar uma construção de franquia coesa e verdadeiramente de sucesso.

Depois de 11 anos de tentativas falhas de renovar a franquia, em filmes que exploravam de uma mitologia dentro do mundo dos Autobots e de sua relação com os humanos, a franquia Transformers finalmente parece entender o que precisa fazer para ter sucesso no cinema, e, porque não, fazer jus a um universo rico e divertido que marcou a infância de uma geração. Essa salvação é Bumblebee, novo longa da franquia que chegou aos cinemas brasileiros em dezembro, apresentando uma história mais intimista e que evoca uma sensação nostálgica dos anos 80 para entregar um filme de ação divertido, espirituoso e que consegue renovar a franquia.

De cara, Bumblebee já mostra a que veio com uma sequência que aquece o coração de qualquer fã que assistiu o desenho animado, trazendo vida aos últimos dias de uma Cybertron interessante e com sequências de ação que, apesar de breves, já estabelecem o tom do que vira pela frente: há uma troca das constantes explosões e dos cortes excessivos na montagem por uma coreografia digital mais pensada e clara, tornando tudo mais vistoso e prazeroso de acompanhar. Esse domínio da direção para os embates é mérito de Travis Knight, diretor que assume o posto deixado por Michael Bay para trazer frescor a um universo que a muito tempo exigia uma renovação de conceitos e caminhos. Depois de um ótimo trabalho no incrível Kubo e As Cordas Mágicas (2016), Knight assume o comando da película trazendo um mantra: “menos é mais”. É verdade que Bumblebee é o filme menos épico de toda a franquia, faltando claramente um grande escopo para tudo o que está jogo, mas a escolha por fazer um filme mais intimista e menos pretensioso é um acerto enorme para a produção. Apesar de não trazerem inventividade, as cenas de ação são envolventes, divertidas e bem dirigidas, permitindo que o espectador entenda o que acontece na tela também graças a um CGI bem trabalhado, dando vida e organicidade aos robôs. O design do robô amarelo que protagoniza o longa é um belo destaque do design de produção, que encontra uma mescla de uma pegada oitentista de um fusca amarelo com a tecnologia e simplicidade do Transformers mais fofo e carismático de todos.

A personalidade do robô é, inclusive, um grande acerto do roteiro. Escrito por Christina Hodson, o texto acompanha a simplicidade visual das cenas de ação para uma história mais intimista e de menor escala, trazendo Bumblebee para a Terra como protetor do planeta, que pode ser a última esperança dos Autobots de encontrar um refúgio após fugirem de Cybertron. Quando é encontrado pela jovem Charlie (Haile Steinfeld), uma garota deslocada que não se encaixa em sua família e em sua rotina desde que perdeu seu pai, o robô volta a vida sem sua memória e sua fala (explicando o porque de sempre se comunicar pelo rádio nos primeiros filmes da franquia), precisando se encontrar para obter sucesso em sua missão. Dessa premissa, o roteiro passa a evocar o sentimentalismo nostálgico de longas dos anos 80, principalmente no que diz respeito a relação de Charlie com o robô, como no grande sucesso E.T.: O Extraterrestre (1982), além de utilizar da dinâmica disfuncional entre a dupla protagonista como o mote para a jornada de crescimento e encontro pessoal da garota, assim como é visto em O Gigante de Ferro (1999).

Não que Bumblebee tenha o mesmo impacto e sentimento que estes outros dois projetos, mas existe personalidade e uma energia muito espirituosa neste longa, fazendo com que algumas digressões e excessos do roteiro sejam pouco caso para um filme que acerta em muitos pontos. Memo, por exemplo, personagem vivido pelo jovem Jorge Lendeborg Jr., não funciona muito como o par humano da protagonista, mas rende algumas boas cenas de humor. O delirante cientista Powell (John Ortiz), existe claramente para ser o contra-ponto militar ao personagem de John Cena, mas cai em uma representação caricata e clichê de um cientista louco mergulhado nos estudos para a Guerra Fria, sem trazer nada de novo ou de divertido. Cena, por outro lado, traz muito carisma e personalidade para seu Agente Burns, que sem a energética e divertida performance do ator tornaria o militar em mais um clichê desnecessário do roteiro – que traz algumas bizarrices, como a representação datada de patricinhas fúteis do high school americano.

Contudo, mesmo que exagere um pouco na necessidade de personagens ou inclusões na trama principal, o roteiro acerta muito ao priorizar a dinâmica de Charlie e Bumblebee, explorando de uma relação divertida de aprendizado, crescimento pessoal e autoconhecimento. Cheio de personalidade em seu design, na forma como se movimenta e no comportamento assustado de uma criatura em um ambiente em que não está a vontade, o robô ganha carisma e entrega divertidas cenas de um humor físico. Por outro lado, Hailee Steinfeld brilha como protagonista, carregando as poucas cenas em que exigem de uma amplitude dramática mais presente, ao mesmo tempo que emana carisma e sensibilidade, tornando a relação da e Charlie e do robô ainda mais empática.

Assim como a energia nostálgica e o design de produção, a trilha sonora também tenta evocar uma vibe oitentista, mas não tem o mesmo sucesso que os dois primeiros. Ao recorrer a canções símbolos da época, mas que já foram exaustivamente trabalhadas em outros longas, a coletânea de canções não carrega a mesma personalidade que seus protagonista e que todo o filme têm, não funcionando também para a construção diegética nostálgica da película. Ao final, mesmo que com alguns pequenos deslizes, Bumblebee entrega o tão desejado e necessário frescor para a o universo de Transformers, abrindo a possibilidade para uma renovação da franquia e para uma exploração mais profunda de toda a vasta mitologia que envolve os seres de Cybertron.


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