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Revisitando e atualizando o filme de 61, "Amor, Sublime Amor" cresce como um musical inspirado graças aos vícios de Spielberg.

Revisitando e atualizando o filme de 61, “Amor, Sublime Amor” cresce como um musical inspirado graças aos vícios de Steven Spielberg.


Que o cinema estadunidense passa por um período de reciclagem e revisitação de filmes e franquias de sucesso do passado não é novidade, mas é minimamente interessante que até mesmo o Steven Spielberg tenha se prestado ao exercício de revisionismo. O curioso é que o envolvimento do pai do cinema blockbuster e nome forte da Nova Hollywood neste movimento diz menos sobre o interesse de bilheteria destes resgates de franquias e atesta mais para a limpeza corretiva que Hollywood tem se proposto a fazer de si mesma.

Então, não é à toa que Spielberg escolha Amor, Sublime Amor como o seu filme para esta atividade, um clássico dos anos 60 que é conhecido tanto pelo sucesso como musical em um período de baixa do gênero, quanto pelas problemáticas étnicas e culturais de sua história.

No fim das contas, esse Amor, Sublime Amor é essencialmente um filme do Spielberg (no melhor sentido do que isso significa) porque ele usa de todos seus vícios de encenação para criar um musical com senso de escala excelente, com uma história de amor envolvente que traz a tragédia shakesperiana étnica-urbana para um contexto mais contemporâneo e igualmente vistoso esteticamente.

A direção de fotografia do Janusz Kamiński da conta de uma estripulia visual para se juntar a coreografias criativas que transformam lutas e perseguições em danças envolventes, enquanto o cenário, os adereços e o grafismo visual deixam o filme em uma mistura de fantasia de amor inocente e relato sujo de uma metrópole com questões urbanas.

Este tema de gentrificação e embate territorial como o enfrentamento de duas culturas é bem demarcado na nova versão de Amor, Sublime Amor e há, de fato, uma correção histórica em relação ao filme original de 61 (que pintou o rosto de atores brancos para dar vida aos personagens porto-riquenhos) e a personagem de Maria (que tem muito mais profundidade e personalidade aqui).

De alguma forma, o que pesa contra essa nova versão é sua própria condição de remake. Não que o Amor, Sublime Amor de Spielberg fique na sombra do original de 61, mas sua existência como dispositivo de reconfiguração de imagens, cenas e números musicais (mesmo que com personalidade) ainda assim funciona na lógica de um revisionismo sentimental e seguro.

Mesmo assim, o saldo de todo esse exercício de memória afetiva (por parte do diretor) e de recriação de um musical clássico com uma realização inspirada, é positivo. E se Spielberg é um diretor de uma filmografia vasta e de “estilos“ de filmes diferentes (os projetos de prestígio como Munique (2005) e Lincoln (2012), os blockbusters como Tubarão (1975) e Guerra dos Mundos (2005) ou os longas inocentes como E.T.: O Extraterrestre (1982), este Amor, Sublime Amor é, também, um ponto de equilíbrio de todas essas características do diretor.

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