fbpx

“AmarElo Ao Vivo”: experimento social sonorizado resgata a grandeza da coletividade

Em tempos de incentivo ao desrespeito e a individualidade, Emicida proporciona o afeto e a resistência com o "AmarElo Ao Vivo".

Em tempos de incentivo ao desrespeito e a individualidade, Emicida proporciona o afeto e a resistência, em pleno Theatro Municipal de São Paulo.


CConstrução antiga, arquitetura de inspiração europeia, referência por importantes espetáculos, no meio da maior cidade da América Latina: São Paulo. Estou falando do Theatro Municipal de São Paulo, mas também do cenário de um movimento histórico: o show do álbum AmarElo de Emicida.

Realizado em novembro de 2019 e agora registrado no especial da Netflix, representa o resgate da coletividade e o impacto da presença de pessoas negras em um ambiente considerado elitizado e muitas vezes limitado ao poder econômico. Emicida convoca as suas influências, pessoas com experiências comuns e que se identificam com a expressão artística dele para ocupar o Municipal, muitas pela primeira vez, e cantar em alto e bom tom naquele dia, agora sim, histórico.

É tocante, forte, imponente e necessário. É AmarElo mais uma vez mostrando a potência da sensibilidade, como o amor é revolucionário e a colaboração essencial.

 

AMARELO AO VIVO

Simplicidade. Esse é um dos pontos fortes de AmarElo e todos os projetos derivados dessa era, digo, experimento social desde o lançamento há quase dois anos. É com essa postura que Emicida, junto de seu povo, negro e distante das regiões centrais, ocupa o Theatro Municipal e evidencia a cultura negra em posição de destaque, enquanto o espaço torna-se apenas um detalhe.

A expressão artística de pouco mais de 1h30 nos mostra, mais uma vez, que a tragédia não pode ser costume e nem os sentimentos sinônimos de fraqueza. Na apresentação ao vivo, Emicida evoca a paz, a justiça (ou a falta dela), a sensibilidade política e a consciência dos desafios da vida desigual e tumultuada. A plateia ali presente é como a extensão da banda e, com profundidade e energia tocante, fazem dos versos da canções apelo para as próprias dores e necessidades.

O especial incorpora ainda mais força ao trazer o sentimento como protesto, tirando do rap a postura determinante e abrindo para o diálogo, convidando inclusive a plateia e nós, do outro lado da tela, a repensar sobre a própria realidade a cada faixa.

AmarElo, em suas diferentes faces, sejam elas o ábum, o podcast, o documentário ou a apresentação ao vivo, estrutura uma narrativa que ultrapassa os estereótipos, o jeitinho brasileiro e revela a verdadeira riqueza do Brasil e do mundo: a mistura de raças, crenças e costumes que juntos, formam o som forte e unido, em que os julgamentos não tem espaço.

 

ARTE SENSÍVEL

Levanta e anda. Esse é um dos chamados à vida que Emicida nos convida ao longo das músicas, um conjunto de estímulos que, por vezes, nos provocam a ter coragem e resistência para continuar, independente dos espaços. Seja na sofisticação da arquitetura do Municipal ou na cotidianidade das ruas de quem acompanhava o show em tempo real, pelo telão em frente ao Theatro, a experiência é a mesma, isto é, conectar o ouvinte com as origens e emoções do rapper que, na verdade, são coletivas.

Ao longo da performance vamos revisitando sensações, agregando sentimentos diversos, nos restabelecendo aos poucos até chegar nas faixas finais quando reconhecemos mais uma vez: “Tudo, tudo, tudo que nós tem é nós”.

AmarElo Ao Vivo é um material necessário para preservar as nossas trocas, para resgatar as perspectivas da juventude e nos conectar com as memórias de quem muito viveu e precisa compartilhar. Ainda mais nos tempos atuais, de tantos desafios e incertezas, somos aproximados de um som simples, baseado nas situações do dia a dia, mas consistente por mostrar o valor da leveza e de valorizar os afetos que cativamos.

Tendo como inspiração suas vivências e memórias marcantes, Emicida traz à tona, de uma vez por todas, a esperança em forma de música, em meio a intolerância que ganha cada vez mais espaço, seja no cotidiano, nos noticiários e, até mesmo, nos discursos de internet e dos representantes ao redor do mundo.

Por fim, resta-nos amar e acreditar. Durante quase duas horas somos protagonistas e não as nossas cicatrizes. Essa conclusão é revolucionária e histórica. Obrigado por tanto, AmarElo!

Compartilhe

Twitter
Facebook
WhatsApp
Telegram
LinkedIn
Pocket
relacionados

outras matérias da revista

Televisão
Bruna Curi

Unbreakable Kimmy

“Unbreakable Kimmy Schmidt” dá início a sua reta final mostrando uma Kimmy mais adulta, em uma temporada cheia de crítica social e muita comédia. Imagine como seria passar 15 anos de sua vida vivendo em um bunker, acreditando que está a salvo do apocalipse e depois descobrir que tudo não passou de uma grande mentira. Essa é a premissa da série Unbreakable Kimmy Schmidt, originalmente gravada pela NBC e que depois adquirida pela Netflix. O início da série se passa nos dias atuais com Kimmy Schmidt (Ellie Kemper) e outras mulheres sendo libertadas do cativeiro onde viveram por anos, acreditando

Leia a matéria »
Back To Top