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Em "A Mulher Que Fugiu", Hong Sang-soo renova sua encenação em uma dinâmica entre a liberdade feminina e os espaços físicos.

Em “A Mulher Que Fugiu”, Hong Sang-soo renova sua encenação em uma dinâmica entre a liberdade feminina e os espaços físicos.


PPor mais diversificado e plural que seja a produção cinematográfica contemporânea, é seguro dizer que o coreano Hong Sang-soo é um dos cineastas de maior traço autoral do meio atualmente. Em A Mulher Que Fugiu, Hong segue com seu olhar observador para o cotidiano como um exercício de extração do sentido e da força das pequenas situações singelas da vida. Porém, o interessante no novo filme é como o diretor trabalha essa visão para tratar dá liberdade feminina em um mundo de aprisionamento masculino.

https://www.youtube.com/watch?v=Pyfor89dB-w

Sang-soo é um cineasta que nutre um interesse pela relação de suas personagens com o espaço e com o trânsito, sempre muito bem demonstrada visualmente – sobretudo na movimentação de câmera e nos enquadramentos, no jogo que faz entre panorâmicas e a alternância de zoom in e zoom out.

Em A Mulher Que Fugiu, a força dessa relação com o espaço enquanto metáfora visual do estado das personagens se dá de uma maneira particular: se em longas como O Hotel às Margens do Rio o efeito está relacionado a noção do próprio hotel como um local de transição e de passagem, em A Mulher Que Fugiu essa dinâmica tem uma relação espacial ainda mais latente na encenação que, a todo momento, coloca a prova a liberdade das personagens ao dimensiona-las com suas casas e o mundo que as cerca.

Em meio a narrativa com a assinatura clássica de Sang-soo – pautada nas conversas cotidiana regadas a comes e bebes – acompanhamos Gam-hee (interpretada por Kim Min-hee) em um período de visitas à três amigas após cinco anos de casamento sem passar um dia sequer longe do marido. Apesar desta sinopse que denota uma relação problemática, Gam-hee não parece viver um relacionamento desequilibrado ou até mesmo estar infeliz, e Hong Sang-soo coloca sua protagonista para perceber essa sua condição na medida em que dialoga com suas amigas em seus encontros.

Mais do que uma jornada de Gam-hee, A Mulher Que Fugiu forma um retrato de um mundo masculino e opressor por meio da relação das personagens femininas com seus espaços, além de colocar os homens que cruzam os caminhos e as histórias de cada uma delas sempre também deslocados no plano, na maioria das vezes de costas para a câmera porque eles não precisam ter identidades, rostos ou personalidades: são meras representações da opressão e do controle da liberdade feminina.

Ao final, a dinâmica entre espaço concreto e liberdade fica ainda mais evidente quando Gam-hee passa a ter uma relação com o mar, um paralelo que evoca a possibilidade de fuga e de navegar em uma imensidão de caminhos possíveis. É um final evocativo de uma saída para aquelas personagens que reafirma o título de A Mulher Que Fugiu como uma possibilidade de mudança e de liberdade na relação com os espaços e, sobretudo, com o mundo contemporâneo e seu cotidiano que Hong Sang-soo tanto gosta de filmar.

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