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"120 Batimentos por Minuto" é uma obra cinematográfica política, retratando um importante momento histórico do ativismo LGBTQIAP+ francês.

“120 Batimentos por Minuto” é uma obra cinematográfica política, retratando um importante momento histórico do ativismo LGBTQIAP+ francês.


CCâmera na mão e cortes secos dão o tom de documentário da obra 120 Batimentos por Minuto (2017), dirigido por Robin Campillo e vencedor do Grand Prix de 2017 no Festival de Cannes. O longa-metragem retrata a militância da ACT UP, grupo francês que ficou famoso na década de 90 por promover ações não-violentas em defesa da prevenção e tratamento contra a Aids. Didático, o roteiro de Campillo e Philippe Mangeot demonstra conhecimento profundo sobre as ações e estratégias que o grupo utiliza para ganhar atenção midiática e combater as insuficiências propositais das indústrias farmacêuticas.

Com diversas personagens que dividem o tempo de tela com suas tramas pessoais, os mais relevantes são os soropositivos que começaram a se informar sobre a doença. O acompanhamento deles ao desenvolvimento lento e tardio por um paliativo pelas indústrias farmacêuticas gera uma crítica ao modelo econômico que elas seguem, o qual o lucro é mais importante do que a cura. Seus dramas ganham espaço no decorrer do filme ao humanizar a batalha ininterrupta por um tratamento que, em teoria, deveria ser de acesso para todos.

Campillo desloca 120 Batimentos por Minuto até o campo da militância ao mostrar a luta pela vida e a sensação de incapacidade dos protagonistas, frente aos efeitos colaterais do tratamento e a morte de colegas soropositivos. Nesse ponto, o roteiro colabora para que o espectador compreenda os estresses e as explosões dos personagens mais afetados, enquanto buscam por esperança de conseguir novas possibilidades de vida e aproveitá-la. Eles se abrem para falar sobre a contaminação, quebrar tabus e falácias relacionadas aos preconceitos com os LGBTQI+. A noção de urgência é colocada em pauta durante o longa, pois a morte permeia, direta ou indiretamente, todos os envolvidos na luta contra a Aids.

120 Batimentos por Minuto não perde tempo em suas duas primeiras partes: ele pulsa entre os cortes e a montagem de cenas diferentes com a estratégia narrativa do flashback, mas mantem o fôlego e torna claro para o espectador a pluralidade presente na ACT UP por causa dos seus integrantes com diferentes pontos de vista. Além de mostrar as investidas contra as empresas farmacêuticas e a militância que deve ser feita na rua, por meio da ocupação dos espaços públicos e a luta para desconstruir argumentos falaciosos sobre a Aids.

Contudo, em alguns momentos, o filme freia e respira ao adquirir um tom intimista e são nesses pontos que o relacionamento entre Sean (Nahuel Biscayart) e Nathan (Arnaud Valois) assume o protagonismo. Com 140 minutos de filme, a relação entre os dois ajuda a amortecer o tempo de duração que pode ser considerado cansativo para muitos espectadores. Porém, não há excessos de sentimentalismo ou pragmatismo, pois o foco principal de Campillo é mostrar a luta contra o conservadorismo francês.

É importante, também, compreender o papel dos dois como um elemento capaz de criar empatia, algo capaz de ir além da compreensão sobre o cenário político e social apresentado no final. O trabalho dos atores torna as dificuldades enfrentadas no momento em algo que vai além do registro em tela, mas aproxima de cada um ao lembrar que o doente é alguém com vínculos afetivos. Nesse ponto, a câmera trabalha como um elemento narrativo importante para amenizar o tom de documentário da obra e criar uma estética mais suave, apesar de fria em sua coloração e um pouco opaca quando cores mais quentes surgem na tela.

Campillo exerce a função do cinema como um objeto político e de ativismo por meio dessa arte e suas imagens, com a ficção próxima ao real e o documentário quando o tom didático da obra esclarece e ensina sobre uma realidade marginalizada. 120 Batimentos por Minuto retumbe no cenário da indústria cinematográfica, não se rende aos clichês da sexualidade ou do drama e deixa clara a necessidade de discutirmos mais sobre as DST’s, principalmente a Aids, e os corpos que morrem todos os anos e poucos percebem.


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