fbpx
"Entre Tempos" é um verdadeiro mergulho em direção aos nossos anseios mais profundos, sem respostas prontas ou grandes clichês.


“ – Não sei porque me lembro assim.

  – Porque as lembranças mentem. Fazem coisas que não são boas parecerem agradáveis. É o que faz a vida ser suportável.

 – Não acho que as lembranças fazem a vida parecer melhor. Acredito que elas já eram boas, mas não percebemos isso na hora porque não prestamos atenção.”

 

OO diálogo evidencia um claro contraste entre duas visões de mundo: uma mais negativa, outra otimista. Essa divergência de pontos de vista é a principal discrepância entre os protagonistas do longa italiano Entre Tempos, dirigido por Valerio Mieli. O filme é centrado na história de amor dos dois personagens (chamados de “Ele” e “Ela”), que se conhecem em uma festa. O romance não demora a se desenrolar e, em pouco tempo, o casal já mora junto – justamente na casa onde Ele (Luca Marinelli) passou sua traumática infância. É tudo uma questão de ponto de vista: enquanto Ela (Linda Caridi) diz que apenas o presente existe, Ele afirma que o agora não é real. Já passou.

O protagonista apresenta grandes dificuldades em se desvencilhar do seu passado, marcado principalmente pelo seu relacionamento turbulento com uma garota ruiva e pelas brigas horrendas entre seus pais. Ela, no entanto, parece ter dificuldade em se recordar de momentos tristes, o que reflete no seu estado de espírito (aparentemente) estável e alegre. A partir do envolvimento entre os dois personagens, esses sentimentos ficam cada vez mais difusos – em certo momento, não se sabe mais quem é o verdadeiro otimista da relação.

Os fantasmas do passado, as incertezas do presente e o medo do que está por vir. Todas estas angústias atordoam os personagens principais de Entre Tempos, que precisam descobrir a melhor forma de lidar com as próprias inseguranças e, claro, com diversas questões que emergem a partir do relacionamento. “As coisas são belas porque acabam ou elas seriam menos belas justamente por isso?” – essa é  uma das perguntas centrais do longa.

Destaca-se a atuação de Linda Caridi, que emana sutileza e naturalidade. Em algumas cenas, os personagens principais podem parecer irritantes (especialmente Ele), mas a trama não deixa de ser envolvente. A trilha sonora auxilia na ambientação e nos faz mergulhar mais e mais na trama. As paisagens italianas, como sempre, são os melhores cenários possíveis para o desenrolar desse romance.

A direção de Mieli é acertada: todas as escolhas de planos e lentes auxiliam a passar o sentimento de impermanência da memória. Em uma das cenas, por exemplo, a cor do vestido da protagonista muda – uma hora é branco, em outro momento vai ganhando cor. As lembranças mentem.

Quem espera uma história agitada e repleta de reviravoltas pode se decepcionar: Entre Tempos é justamente sobre o banal. A beleza do filme está, principalmente, em sua forma e na subjetividade dos protagonistas. É um verdadeiro mergulho em direção aos nossos anseios mais profundos, sem respostas prontas ou grandes clichês.

Compartilhe

Twitter
Facebook
WhatsApp
Telegram
LinkedIn
Pocket
relacionados

outras matérias da revista

Televisão
Bruna Curi

Ele está de volta

Nota do Colab: este texto contém spoilers. No ano passado, os fãs de Lucifer ficaram apreensivos quando a FOX anunciou o cancelamento da série, devido a baixa audiência. Não demorou muito para que os fãs fossem reclamar da decisão na internet através da hashtag #SaveLucifer (“Salve Lucifer”, em tradução), chegando aos Trending Topics mundiais do Twitter – a lista dos assuntos mais comentados do microblog. Em junho de 2018, o movimento surtiu efeito e a Netflix anunciou a sua decisão em dar continuidade à série. Através da plataforma de streaming, Lucifer iria ganhar uma quarta temporada. Nas mãos da Netflix,

Leia a matéria »
Back To Top