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Fantasmas marca o início de um trabalho pautado no cotidiano, elemento recorrente nos filmes do diretor André Novais de Oliveira, como também visto no curta-metragem Pouco Mais de Um Mês e no longa-metragem Temporada. Em um exercício cinematográfico voyeurístico, Fantasmas estabelece uma relação subversiva com a linguagem para criticar às tradições técnicas e narrativas do cinema.

O curta-metragem filmado em Contagem, considerada a Meca do cinema mineiro muito por conta das produções da Filmes de Plástico, se rebela filmicamente quando entrega uma imagem e uma paisagem sonora ruidosas. Nessas situações, a câmera exerce uma função além da captura de fotogramas, no filme ela guia a trama e cimenta a metalinguagem presente na relação dos personagens com o espaço.

A falta de apresentação dos personagens e de contextualização dos diálogos afrontam a narrativa clássica, de modo a consolidar uma identidade que levou Fantasmas a ter cadeira cativa entre os melhores curtas-metragens já produzidos no Brasil. Os “fantasmas” não possuem presença diegética, de forma que os devaneios interpretativos dos espectadores, de fato sejam espectros, fantasmas, flutuando na trama em busca de assimilação do plano estático que estão assistindo.

O mineirês orgânico carrega a trama em diálogos casuais emitidos por dois personagens invisíveis, descontextualizados e também fantasmagóricos. As motivações são inicialmente desconhecidas, mas com as noções cotidianas, o universo é gradativamente descortinado.

Cartaz do curta

A presença subtextual da câmera focando na banalidade do dia-a-dia potencializa o discurso da voz em off, reforçando a importância da conversa para o entendimento do filme. O texto materializa situações orais, de forma que o voyeurismo a la Haneke nos faz enxergar a motivação com os olhos do personagem, enquanto ele mesmo enxerga por meio da câmera.

A função da filmadora é de sentinela, o personagem tem a expectativa de descobrir a veracidade de sua desconfiança. A ideia é descobrir e associar a presença da igualmente fantasmagórica Camila a um evento digno de ser esquecido. “Agora eu vou esquecer…”, diz o personagem.

A estilística do cinema por meio dos novos dispositivos está cada vez mais presente. Em Fantasmas, a graduação na captura da imagem tem uma significação inicial que remete ao sentimento vigilante do olhar, para se tornar, posteriormente, um olhar digitalmente afetuoso que nos faz dar valor para o cotidiano e para as relações efêmeras. Uma sensação tal como acontece na conexão com os próprios personagens do filme.

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