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Em uma Belo Horizonte cinza e labiríntica, Elon (Rômulo Braga) – personagem central de Elon Não Acredita na Morte – é sufocado durante sua incessante busca por sua esposa Madalena (Clara Choveaux). O filme lida com a dor dele pela falta, ausência essa que nunca é efetivamente materializada. “Tu ama demais, sufoca”, diz a amiga de Madalena, logo no início da projeção.

Elon percorre um terreno movediço, onde a neurose dele se consolida como tema central do filme, que é sustentado pelo uso de pouca luz, o aumento do contraste evidenciando as sombras e a íris da objetiva mais fechada – que dilatam a pupila e escondem as intencionalidades do protagonista, decompondo-o nos espaços que percorre, em uma busca digna de Orfeu e Eurídice.

A premissa de Elon Não Acredita na Morte é originada do curta-metragem Tremor, também dirigido por Ricardo Alves Jr, que extraiu a ideia do roteiro ao conversar com um paciente na ala de saúde mental de um hospital belo-horizontino. Há, aqui, uma narrativa alongada que potencializa a perseguição incessante do protagonista, além de uma dramatização pela falta de informação, que funciona nos minutos iniciais, mas acaba se esgotando em consequência de um uso reincidente, tornando a trama arrastada e o personagem maçante.

Essa ignorância cedida a Elon fez com que a falta de informação se tornasse uma espécie de amnésia dissociativa, em que o personagem parece querer repreender memórias de situações traumatizantes que já viveu, como uma possível morte da esposa.

Já a câmera que acompanha Elon, quase sempre pelas costas, testemunha a desorientação do personagem em sua busca pelos espaços. As várias portas nos corredores mal iluminados ilustram essa incerteza frente às informações desencontradas e imprecisas, como na cena em que ele passa por vários cômodos vazios enquanto trabalha como vigia noturno. Sua presença relapsa reitera a relação rasa que tem com esses ambientes, muito por causa do constante sentimento de desconfiança que sente. Elon Não Acredita Na Morte. Por que não? E se Madalena tivesse fugido? Não seria uma decisão muito difícil, haja vista a personalidade difícil de Elon.

Dentre todos os momentos encharcados pela visível confusão mental do protagonista, a projeção de Madalena é o arquétipo mais certeiro. O ímpeto da relação sexual desejada e executada por Elon em seu devaneio, elucida ao passo que também metaforiza o desejo do personagem pela presença física da mulher, além de transparecer efetivamente o estado delirante que o protagonista se encontra.

As pistas intangíveis que parecem lógicas para Elon ao longo de sua busca, permanecem na penumbra, conservando-se mornas quando têm necessidade de inflamarem o enunciado do filme. Elon Não Acredita Na Morte começa a se incandescer lentamente, mas logo fica perceptível que a escolha de Ricardo Alves Jr. por uma baixa iluminação dialoga com a falta de luz no fim do túnel para seu personagem central.

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