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Violência política e pandemia são pano de fundo da cerimônia, enquanto a música contribui no resgate da reconciliação pós-Donald Trump.

Violência política e pandemia são pano de fundo da cerimônia, enquanto a música contribui no resgate da reconciliação após quatro anos de Trump.


Desde Party in the USA, de Miley Cyrus, até Born In The U.S.A., de Bruce Springsteen, várias são as músicas que exploram o nacionalismo e o modo de viver da população norte-americana. Em pleno 2021, após um mandato conturbado do republicano Donald Trump, seguido de ataques à imprensa, desinformação, pandemia e movimentos negros em todo o país, Joe Biden e Kamala Harris oficializaram, finalmente, a posse como Presidente e Vice-presidente dos Estados Unidos para os próximos quatro anos.

O evento tradicional de posse, desta vez sem público, transmitido mundialmente, e o especial musical Celebrating America, deram o tom da empolgação de parte dos cidadãos dos EUA – e a Música, como de costume, não passou despercebida.

Comum em momentos como esse, de grande expectativa em escala nacional, artistas trouxeram seus posicionamentos de esperança, novos tempos e mostraram que, mesmo em situações difíceis, podemos terminar com fogos de artifício coloridos iluminando o céu.

 

CONTEXTO

Dos palcos para os palanques. Assim pode ser resumida a trajetória de muitos artistas que, por sua relevância e atitudes, passam a ocupar espaços e momentos políticos com suas mensagens. Tendo na música a plataforma de alcance, se unem ao hino nacional para formar um manifesto a todo um povo. E com os Estados Unidos não é diferente.

Na última quarta-feira, 20 de janeiro, o 46º presidente norte-americano Joe Biden tomou posse, mas muito mais ganhou evidência junto a ele, enchendo de simbolismo o Capitólio, em Washington. O hino nacional foi apresentado por Lady Gaga, participante engajada na campanha de Joe em 2020, que de forma emotiva cantou sobre novas possibilidades, horizontes e a chegada de um novo período.

Vestida com uma saia vermelha, representando o amor, e uma pomba dourada em sem ombro, a paz, Gaga representou a esperança dos artistas que, com criatividade, passaram por limitações e aproximaram suas ideias ao público. É o triunfo da coragem.

JUNTOS EM CASA
Em abril de 2020, Lady Gaga também demonstrou sua atuação fora dos palcos na curadoria do festival One World: Together At Home, organizado pela ONG Global Citizen em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O evento reuniu um time de artistas influentes mundialmente para homenagear os profissionais de saúde e a OMS na luta contra o Covid-19, além de conscientizar as pessoas.

Quem também marcou presença foi Jennifer Lopez. Com um traje todo branco, que pode remeter à paz e os profissionais de saúde, a artista latina cantou This Land Is Your Land, canção escrita em 1940 por Woody Guthrie. Com muita força na entonação e profundidade nas expressões faciais, a canção se mostrou como um protesto e a legitimação do reconhecimento de minorias políticas tão atacadas no mandato de Trump.

Uma nação sob Deus, indivisível, com liberdade e justiça para todos” foi a fala de JLo em espanhol diante a muitas bandeiras dos EUA que representavam o público. A comprovação da união dos latinos após quatro anos de embates e desgoverno do maior representante do país.

Jennifer Lopez

Ainda, Amanda Gorman, jovem escritora negra americana, de 22 anos, levou poesia para a cerimônia e inspirou ao declarar:

A democracia pode se atrasar periodicamente, mas nunca será derrotada para sempre. Nesta verdade, nesta fé em que confiamos, temos os olhos postos no futuro. A história está de olho em nós. Esta é a era da justa redenção”.

 

RELEVÂNCIA

Certamente, não é só de quatro em quatro anos que vemos essa bagagem cultural se unir ao discurso politizado e ganhar a atenção dos EUA. Vários são os casos em que as canções e personalidades falaram muito o que a população queria dizer, mas ainda não tinha encontrado a linguagem para se expressar.

Em 2015, por exemplo, Kendrick Lamar baseou seus versos na relação de segurança com Deus na faixa Alright, que logo virou referência nos protestos do movimento Black Lives Matter. O verso “vamos ficar bem” acabou sendo uma aposta de esperança do futuro em meio ao racismo institucional nos EUA, em um misto de dor e esperança por parte de Lamar. 

Amanda Gorman

Isso tudo enquanto Beyoncé, que participou do evento de posse do Obama em 2013, preparava o consistente e político Lemonade, seu sexto álbum de estúdio. Também, não faltam referências de profissionais do meio em discursos, por exemplo, nas premiações cinematográficas, como o Oscar e o Globo de Ouro, na tentativa de aproveitar do momento de evidência para despertar o olhar do público a questões importantes para a nação. 

INFLUÊNCIA MUSICAL
O auge da influência musical estadunidense ainda hoje pode ser personificado na música We Are The World, idealizada e composta por Michael Jackson e Lionel Richie, gravada em 28 de janeiro de 1985 por 45 dos maiores nomes da música norte-americana. A iniciativa, parte do projeto USA for Africa, tinha como objetivo arrecadar fundos para o combate à fome no continente africano.

Já em 2019, um videoclipe surpreendeu e assustou inicialmente muita gente. This is America, de Childish Gambino, assumiu popularidade ao trazer em alguns minutos para a tela o que a população negra norte-americana tem de conviver todos os dias. A violência policial motivada pela cor da pele e o modo da sociedade encarar essa realidade ganhou dança, coros e caras e bocas, é a cultura mais uma vez fazendo mais que muitos presidentes. 

Nesse sentido, a movimentação de artistas e pessoas influentes vista na campanha e posse de Biden e Kamala é especial, mas reflete um panorama mais amplo: a influência da cultura na política norte-americana. Isso inclui as tomadas de decisão e os rumos do país quando uma apresentação, música ou discurso, por exemplo, reflete nos próximos passos do governo e população.

Lady Gaga

A nova candidatura representa esperança, união, senso de comunidade, mas também os desafios da polarização herdados de uma eleição apertada e a sociedade dividida. Podemos esperar contribuições artísticas fortes, intensas, no ritmo do atual cenário, afinal, manifestações culturais são atos políticos e depende também de nós se a era que começa agora será de luzes coloridas, como as que iluminaram os EUA na última quarta.

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