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Na postagem da coluna, Giulio Bonanno discute o efeito transcendental da arte, seja ele criado pelo artista ou ressignificado por quem a vê.

Durante a análise de uma obra, a intenção do autor é o que mais importa? Sim e não.

Como assim? O autor não é quem tem a palavra final? Não parte dele a vontade divina de dizer qual o significado de suas invenções? Diálogos, personagens, cenários e situações são produtos da sua cabeça e de ninguém mais, certo? Se ele não tem esse poder, quem teria?

Pessoal, confesso que a resposta poderia ser mais simples. Vou tentar dissertar algo aqui…

O tal poder é compartilhado. É, sim, do autor, mas também é nosso. Advém das gerações presentes e futuras que se identificam no papel de receptor. Portanto, se temos esse poder, também temos certa responsabilidade (rs). Somos espelhos de contextos e conjunturas. É inevitável, portanto, dar uma interpretação que fuja de nossas experiências, de nosso aprendizado vigente.

Justamente como o autor, compartilhamos de igual efemeridade. Durante a escrita, sua mente constituíra fervorosa espuma criativa com emulsificação oriunda de lições em tempos pretéritos. Em outras palavras, o artista está limitado àquilo que viveu. Diferente de sua arte, porém.

Dizem por aí né: a arte transcende.

Exposição de obras de Dalí

Gosto de refletir sobre isso porque valorizo o poder de uma interpretação. Compreendo que o papel do interlocutor, quando assumido de boa vontade, eleva-se quase que ao nível de coautor. Escolha uma pintura: CaravaggioDaliPortinari. Ouse alguns significados. Agora, coloque isso no papel (ou numa conversa de WhatsApp). As pontes entre a sua vivência e as desses artistas foram estabelecidas com sucesso. Você carrega um pedacinho do legado desses caras. Um pouco de técnica e inspiração, com pitadas de outros legados carregados no bolso, e voilá: és um autor também. E se todo mundo fizesse isso? Sete bilhões e uns quebrados de autores…

Nascemos com um enorme potencial. Ao longo da vida, corremos o risco de perdê-lo. A indiferença, o cinismo e as desilusões que cicatrizam nossa alma corroem o tato artístico. Sustentar isso uma vida inteira é coisa de gente forte, batalhadora. É quase uma bobagem né? Mas ó, não conta pra ninguém não: tem gente que ficou rica assim! Bobagem rentável já é outra coisa. Enfim, analisar uma obra é também um exercício de autoconhecimento, quase uma sessão psicanalítica. A diferença é que você (muitas vezes) não paga e o seu analista pode ser, sei lá, o Tarantino!

Brincadeiras a parte, Quentin Tarantino é um bom exemplo para discutir aqui. O cara consumia filmes que nem um lunático desenfreado. Referências ao cinema europeu e asiático aparecem de sobra nos filmes dele, que não perde uma oportunidade para homenagear grandes nomes do passado. Em uma análise fria, seus trabalhos são sobre o amor de um sujeito pelo cinema e nada mais.

O que não exclui as exclamações pró-feministas de Jackie Brown, Kill Bill e À Prova de Morte, ou as delicadas questões raciais tratadas em Django Livre e Os Oito Odiados. Acepções de uma geração servindo como reflexos de seu tempo. Inferências futuras do autor deveriam importar tanto (ou até menos) quanto um ensaio sociológico feito — com o devido embasamento — por um cientista.

“Os Oito Odiados”

Interpretações podem ser distintas. No final das contas, tudo não passa de opinião, com umas, é claro, mais bem sustentadas do que outras. Não tem nada a ver com mérito.

Tampouco com intenção.

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