fbpx
Vencedor do Oscar de Melhor Curta Documentário, "Absorvendo o Tabu" ecoa a luta de inúmeras mulheres contra a opressão vivida na Índia.

Coletores menstruais, absorventes de panos e calcinhas preparadas para o ciclo são opções sustentáveis para quem quer substituir o uso dos clássicos absorventes descartáveis. Além do acesso ao item de higiene, atualmente em algumas realidades, é possível escolher qual dos modelos usar. Infelizmente, como mostra o documentário Absorvendo o Tabu, esse não é o caso da Índia.

Segundo o documentário, apenas 10% das mulheres na Índia têm acesso aos absorventes. 90% da população feminina do país indiano equivale a quase 600 milhões de pessoas — o que corresponde a três vezes a população total do Brasil. Absorvendo o Tabu mostra a realidade de mulheres que, por conta da opressão e da falta de acesso à informação, quase não conseguem pronunciar a palavra menstruação.

Inclusive, quando questionada sobre o porquê do período acontecer, uma entrevistada responde que “Só Deus sabe por que a menstruação acontece. É o sangue ruim saindo da gente”. Já outra diz que  “A única coisa que sei é que é por conta da menstruação que os bebês nascem”.

Absorvendo o Tabu acompanha o processo de implementação de uma máquina que produz absorventes biodegradáveis de baixo custo. A intenção é que as mulheres consigam alcançar independência financeira e condições melhores de higiene e, consequentemente, de saúde. É louvável a transformação que esse equipamento consegue fazer no vilarejo de Uttar Pradesh. Além de capacitar as mulheres a fazerem seus próprios absorventes, elas recebem a oportunidade de vendê-los a outras.

Dentre os vários relatos apresentados, um em específico capturou minha atenção. Uma entrevistada diz que estudou até o Ensino Médio e que menstruou pela primeira vez nessa época. Como ela não tinha acesso aos absorventes, precisava trocar de roupa várias vezes ao dia e os homens ficavam olhando ela se trocar. Ela abandonou os estudos por esse motivo.

Vencedor do Oscar de 2019, o curta está disponível na Netflix. Ao receber a premiação na categoria de Melhor Documentário de Curta-Metragem, Rayka Zehtabchi se emocionou: “Eu não estou chorando por que estou menstruada ou algo do tipo, eu não consigo acreditar que um filme sobre menstruação acabou de ganhar um Oscar!”. Essa fala teve a intenção de ressignificar o olhar machista que relaciona a sensibilidade ao período – no sentido de fraqueza.

O reconhecimento recebido foi importante, mas a missão de Zehtabchi continua. The Pad Project, tem o objetivo de espalhar pelo mundo o máximo de conhecimento possível sobre o assunto. A esperança é avançar em direção a um mundo em que as meninas se sintam empoderadas em seus corpos, alcancem independência econômica, entendam suas opções de saúde reprodutiva e sexual e aproveitem o poder de moldar suas vidas. Um mundo que com filmes como Absorvendo o Tabu, fica um pouco menos distante.

Compartilhe

Twitter
Facebook
WhatsApp
Telegram
LinkedIn
Pocket
relacionados

outras matérias da revista

Na Diegese
Giulio Bonanno

Na Diegese / Viagens em tempos de absoluta depuração

Viagens no tempo são fantasias que revelam o quão frágeis nós somos. No bom sentido. Apegar-se aos recortes cronológicos ou situar-se numa determinada marcação do calendário é uma manifestação de consentimento com a efemeridade. É de onde derivam-se traduções intensas de angústias perenes, como a saudade e a nostalgia, fazendo da relação com o mundo material um fim em si mesmo. Nossos corpos seguem como veículos nessa estrada pavimentada por horas, minutos e segundos. Muitos autores, cansados de trabalhar numa mesma linha temporal, resolvem extrapolar suas narrativas para vasculhar possibilidades largadas na lixeira. É como pegar aquele velho rascunho amassado
Leia a matéria »
Back To Top